Por Rafael Eid
Uma das frases mais legais que conheço do Osho é aquela em que ele afirma que a massagem é necessária pois as pessoas deixaram de se tocar, e quanto mais “ civilizada” a pessoa é, menos se permite o toque, menor é a presença do afeto … lordes ingleses da modernidade.
A demonstração de afeto tende a ser rejeitada tanto conscientemente, quanto inconscientemente. As pessoas até dão aqueles três tapinhas nas costas quando se abraçam, com corpos distanciados, movimento semelhante àquele demonstrado em lutas, quando um dos lutadores quer indicar que deseja parar a luta. Em algumas culturas nem existe toque, somente reverencias distantes.
De forma geral, a demonstração de afeto, a leveza, a alegria são sinais de fraqueza no mundo moderno dos negócios e do dinheiro, e como a gente vive para o deus dinheiro, nada mais “certo” do que honrar seus valores que são rigidez, força, distanciamento… do outro, de você mesmo e de Deus.
Se estivermos atentos, observaremos que existem muitos símbolos em nossas vidas que podem ser identificados. E isso pode ocorrer também nos abraços. A forma desses varia muito, dependendo do que a pessoa quer passar, do que ela sente, dos traumas, das repressões que a pessoa teve ou vivenciou.
Abraço dado de lado, sem encostar o peito significa afastamento ou fuga dos sentimentos que ficam no coração; abraço com a pelves super inclinada para trás significa medo de encostar a pelves no outro, medo da sexualidade, os tapinhas nas costas como afirmei, é símbolo de distanciamento. Esses significados não precisam ser exatamente dessa forma e também não precisam ser somente eles, mas é um belo começo de pesquisa interna.
E o que acontece quando esse distanciamento, essa falta de toque se torna frequente? Acontece o que nós estamos cansados de ver na atualidade, como é o caso das doenças da modernidade, tais como depressão. Pais não tocam os filhos; irmãos não se tocam; amigos não se tocam. E o poder do toque é extremamente curador. Identifico isso de inúmeras maneiras e fontes. Com o toque, o abraço, o carinho, o afeto, as pessoas trocam energia com as outras, e essa energia é curadora, ela não faz mal. Se existir amor no toque, uma real intenção de cuidado, essa energia não é prejudicial. Se assim o fosse, quem trabalha com cura pelo toque estaria morto em pouco tempo de trabalho.
Mas então Rafa, como abraçar?
Não há uma regra, um “tem que”. Existe intenção, coragem, entrega. Abrace de corpo inteiro, olhos fechados, com o coração encostado no outro coração, por vários segundos, uns dez pelo menos. Se sentir vontade de apertar a outra pessoa, aperte-a; fale o que sente. Se não quiser, também pode se afastar, não tem problema. Abrace de forma reta, se for alto se abaixe, encostando o corpo todo, pelves inclusive. Você não vai transar com a outra pessoa dessa forma, fique tranquilo, e se sentir incomodo, achando que a outra pessoa tem intenções que você não quer, afaste-se. Mas o abraço de corpo inteiro, sem mente, com sentimento, faz bem tanto para você como para o outro, essa troca de energia é muito benéfica.
Numa busca rápida sobre benefícios do abraço pode se achar:
- Melhora a autoestima. O contato físico nas relações humanas melhora a segurança e a autoconfiança;
- Ensina outra maneira de se comunicar;
- Reduz o estresse e a ansiedade;
- Melhora a saúde de nosso coração;
- Reduze o medo da morte;
- Aumenta os níveis de serotonina.
“Um dos grandes estímulos para a liberação de ocitocina é o contato físico. O abraço nada mais é do que contato físico, uma manifestação de carinho, de acolhimento”, diz Deborah Suchecki, da universidade Unifesp (http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-18732-3,00.html)
“O que a ocitocina faz é modificar as fontes de adrenalina e cortisol, tornando essas fontes menos estimuláveis. Dessa forma, a liberação de adrenalina e cortisol se torna reduzida. A sensação final é de enorme bem-estar. Vamos pensar o seguinte: a ocitocina é liberada no orgasmo. Preciso dizer mais alguma coisa?”, diz a mesma autora no mesmo texto.
Concluindo, abrace mais, priorize esta prática um pouco mais em sua vida. Para isso, fique atendo nos próximos abraços; se entregue mais; não o faça de uma forma mecânica e rápida; leia o seu abraço e o abraço do outro; sinta conscientemente o poder de cura depois de alguns abraços, o quanto você relaxa.
O abraço é muito mais que uma saudação. Ele é cura pelo toque, cura pela entrega; em um abraço real não existe poder ou status, só existem duas almas.
fonte: https://buscadoresdesi.com/2018/12/21/o-abraco-entre-o-medo-e-a-cura/