Querido Terapeuta Tântrico: O Buraco É Mais Embaixo!

Por Daricha Sundari

Estar diante de alguém disposta a despejar escancaradamente sobre quais os motivos que me levaram a me tornar uma terapeuta tântrica não é nada fácil.

Falar sobre ser terapeuta a partir de uma máscara é tão fácil, tão lindo dizer que somos terapeutas que trabalham a partir do amor, da cura que tem como caminho o prazer, tão fácil “vender” para quem “precisa” um caminho de mais amor e mais prazer, pois falar através da máscara é muito convincente.

Quando comecei a atuar como terapeuta tântrica esqueceram de me falar sobre algo muito importante, existe um tantra que atua na escuridão, um tantra que se abastece das mazelas do ser humano, um tantra que se fortalece da ingenuidade ou da negação do terapeuta que atua sem se preocupar em conhecer suas dores mais profundas e os porquês de escolher ser um terapeuta da sexualidade, um tantra que se abastece das terapeutas que atuam inconscientemente para vingarem-se de suas mães se mostrando independentes, se abastece de terapeutas que usam seu poder durante uma massagem para humilhar o masculino, para se vingar da opressão que sentiram, terapeutas que usam o tantra para derramar sobre o outro o seu ódio do prazer negado por milhares de séculos, terapeutas que usam o tantra para manipular , usar e seduzir, terapeutas que utilizam essa arma que é massagem tântrica para “matar” as tantas mulheres que os colocaram diante de suas fraquezas e suas carências, terapeutas que usam o tantra para abusar buscando aliviar o ódio de ter sido rejeitado(a), terapeutas que usam o tantra para se intitularem poderosos(as), que usam a massagem para dar prazer e satisfazer seus próprios desejos sexuais, que usam o título de terapeuta para transarem com mulheres utilizando inconscientemente seus lingans como verdadeiras “facas” matando a alma de cada mulher que tocam. Sim, tudo isso acontece, e acontece dentro dentro de um quarto bem escuro guardado dentro de nosso inconsciente, são nossos segredos mais profundos velados e guardados de nós mesmos.

Se você é terapeuta tântrico e está lendo esse texto talvez esteja pensando , nossa, eu já resolvi isso ou então está pensando, uau, tem pessoas que são assim, ou então deve estar julgando, pasmem, estou falando de você mesmo, estou falando de mim, estou falando de partes escuras e sombrias que não temos coragem de olhar, partes de dor e sofrimento que derretem a carne, falo de uma dor que tem gosto de sangue podre. Falo de um muro alto que nos separa da verdade luz tântrica, que nos separa da verdadeira energia e força do tantra, e esse muro está bem construído dentro de nós que escolhemos trilhar esse caminho. Ouse falar conscientemente para você mesmo sobre os motivos pelos quais escolheu ser um terapeuta tântrico, ouse mergulhar profundamente em suas histórias e suas mazelas e diga, de verdade, o que te fez escolher tocar na mais profunda dor da alma de alguém através do prazer.

Mas tem uma boa notícia, há uma parte do tantra, a qual escolho me conectar, que é a experiência mais sublime do ser humano, é o todo, e a luz que cura o mundo, o tantra que desperta aquilo que temos de mais sublime, o amor incondicional. O tantra que vibra pulsantemente luz para a cura da humanidade, acolhendo nossas sombras e expandindo nossa luz.

Daí eu te questiono, e talvez novamente você se confunda ou não acesse: o que te fez escolher ser um terapeuta tântrico após vivenciar essa força de amor incondicional por milésimos de segundos? Após ter meditado e sentido em seu corpo essa energia vibrante e pulsante? Após ter se curado durante uma experiência com essa força? Sua resposta pode ser: Eu desejo curar o outro, eu desejo levar para outras pessoas aquilo que senti aqui, eu quero ajudar as pessoas, eu quero levar esse amor para pessoas que tanto precisam.

Não. Não é nada disso. Na verdade você quer curar a si mesmo, curar seu ódio da humanidade, curar sua luxúria, sua rejeição e carência, quer curar o seu desprezo e abandono, quer curar sua culpa e impotência, sua vaidade e desconexão. Quer abandonar sua auto imagem, quer se desmascarar e ser pego em suas próprias armadilhas, quer abandonar o prazer em sentir dor, quer calar a voz que diz: você não é bom ou boa o suficiente. Esse é o chamado da sua alma enquanto terapeuta tântrico, e parabéns se você já conhece esse chamado, parabéns se você já tem essa consciência, caso contrário, você apenas estará retransmitindo sua dor à todos aqueles que tocar.

Em primeiro lugar, seja terapeuta de você mesmo, retire suas vendas, cure suas mazelas, livre-se de seu lixo emocional para então tocar o outro com um amor consciente, ainda que sua alma carregue a dor de sua existência!

Estamos todos crescendo e evoluindo! Eu escolho!

Por: Daricha Sundari